segunda-feira, maio 16, 2011

Levanta-te e vem para o meio! – Mc 3:3


O real não está na saída nem na chegada, está na travessia – João Guimarães Rosa


10/05/11
A gente escolhe um objetivo na vida e traça metas e planos para alcançá-lo. Começa a cumprir cada passo dessa trajetória que tem um único fim. Chegar lá, afinal de contas somos capazes!

Pode ser uma profissão, um casamento, um concurso, uma viagem, comprar uma casa, ter filhos, alcançar a cura de uma doença, recuperar o tempo perdido na vida. Não importa o objetivo, todos eles têm algo em comum. São sonhos que não nos abandonam por onde quer que a gente vá. Pensamos em como alcançá-lo, se somos capazes, se é isso mesmo que queremos pra nossas vidas, se vai valer a pena todo o esforço feito, e que esforço teremos que fazer. Quais são as pedras no caminho que poderemos enfrentar. E se alguém nos desanimar, e se passarmos vergonha por causa desse sonho????

Tomamos coragem num primeiro passo e nos programamos ainda que minimamente, como no caso dos rompantes da vida. Buscamos estratégias e pré-definimos por onde começar. Listamos as possibilidades e o material que precisaremos. Os contatos necessários e que tempo precisamos dispender em cada tarefa. Que recursos serão necessários e como iremos utilizar cada um deles.

De malas prontas, é hora de anunciar aos quatro ventos que iremos correr atrás desse objetivo. É hora de buscar o apoio, o patrocínio, os companheiros de viagem, e as memórias necessárias – suprimentos – que nos trarão esperança, quando der fome e sede (falta de forças para prosseguir).

Um nos encoraja, dizendo que temos potencial. Outro nos alerta que é preciso ter perseverança pra ir até o fim. Uns nos animam, dizendo que as lutas vêm, mas que logo passam. Uns nos desanimam, pois já tentaram, e oferecem seu fracasso como o melhor que podem nesses momentos.

É a hora que bate o medo, aquela vontadezinha aguda de desistir. A gente ouve de tudo um pouco, histórias lindas, outras tristes, glórias e fracassos. Mas no fim, em suma cada um tem a sua história. E você não saberá qual é a sua se não se levantar e for lá ver. A verdade é que dá uma dor de barriga daquelas. Agora é a hora! De enfrentar o medo, de ser corajoso. Aí eu lembro da minha mãe: A diferença entre o corajoso e o medroso não está no fato de um sentir medo e outro não. Ambos sentem medo. O corajoso se destaca porque resolveu ENFRENTAR, já o medroso não!

Agora é pra valer. Chega o momento onde deixamos de ser arquitetos e passamos a ser engenheiros. Não estamos mais sonhando, idealizando. Viramos construtores, transformamos os ideais em realidade! Cada passo que se completa é uma vitória e uma comemoração. O início, logo ali atrás, o fim looonge. Não importa. A travessia dia a dia mostra pra onde estamos caminhando, o nosso alvo está a frente e é pra frente que estamos prosseguindo, a todo vapor.

O tempo passa e as primeiras tarefas se estabelecem. As primeiras análises são positivas, mas já denotam algum cansaço que a caminhada provoca. É hora de sacar um suprimento daqueles da mochila. Nesses momentos reconhecemos o que realmente nos serve na caminhada. Como as palavras de encorajamento nos animam, avistamos na arquibancada quem está por nós. É um novo ânimo para prosseguir.
11/05/11
As coisas vão acontecendo de forma natural e chegam a tornar-se corriqueiras. Virou o nosso dia a dia. Já não são mais sonhos, é a realidade com suas imperfeições. A gente tropeça, uma dor de dente nos deixa de cama. Alguém morre, e adia nossos planos. Nem todo dia estamos bonitos, prontos pra uma foto.

E acontece da gente focar tanto nas tarefas e nos afazeres que esquece que tudo isso faz parte de um sonho, que tem um motivo pra estar passando por tudo aquilo. Pra comer uma comida gostosa tem que enfrentar a fila do mercado e sacar o dinheiro da carteira. Pra ficar sarado tem que malhar todo dia, com vontade ou não. Aos poucos as coisas se tornam hábitos. Não enxergamos mais as tarefas, como parte de um todo.

Resumimos nossas vidas à simples tarefas. Todo dia ao levantar lá está nossa listinha. E não fazemos mais nada que não seja basicamente igual ao dia anterior. Como naquela música do Chico Buarque: “Todo dia ela faz tudo sempre igual, me sacode às seis horas da manhã”...

Incrível que não nos damos conta dessa transição. Não vamos mais à academia porque cuidamos da saúde, mas porque segundas, quartas e sextas são os dias de ir à academia. Não vamos ao trabalho porque temos o objetivo de adquirir experiência e conquistar o salário no fim do mês que nos dá condições de usufruir de um monte de coisas e construir outro monte de coisas. Trabalhamos porque temos que pagar as contas todo mês.

No meio do caminho surgem os tropeços, as tempestades, a fome, o frio, o medo. O desespero e as dúvidas. A fraqueza e o desânimo.

Os tropeços são os erros que cometemos e não queríamos cometer.
As tempestades são as adversidades que não esperávamos enfrentar.
A fome é a falta de energia, forças para prosseguir diante das dificuldades.
O frio é quando sentimos falta das demonstrações de carinho nas situações difíceis.
O medo é a falta de coragem de prosseguir mesmo diante dos acontecimentos ruins.
O desespero é o esquecimento das coisas boas e o foco nas coisas ruins
As dúvidas são os sonhos que deixamos para trás quando nos focamos nas tarefas.
A fraqueza é quando falta reação diante dos acontecimentos.
E o desânimo é a rendição total ao desejo de ceder ao fracasso.
É quando vem de novo a vontade de desistir.

O céu já não é tão azul, os sonhos não tão convidativos. O caminho muito árduo, e talvez nem valha a pena mais continuar.

A gente começa a pensar nos que nos desanimaram com seu fracasso. Será que estamos fadados a ele também? Mas e tudo que sonhamos, que desejamos, que idealizamos? Todos os passos e sacrifícios não valeram de nada?
Realizar um sonho tem um preço. Mas desistir tem um preço bem mais amargo. É verdade que podemos alterar planos e adaptar nossos objetivos, o que pode ser bem dolorido. Mas desistir? Desistir é uma palavra que dói, quando se refere aos nossos sonhos.

Começa a luta interior, o ‘muro’ como chamam os corredores de longa distância. O ‘muro’ é o ponto da corrida onde o atleta enfrenta uma somatória de problemas. O cansaço físico e o mental. As avaliações a que se propõe analisando seu desempenho com o de outros corredores presentes ou o seu potencial real, que às vezes é bem melhor que o apresentado.

Nesses momentos o importante é sabe dosar o consumo de energia, diminuir o ritmo e dar apenas alguns tiros de maior intensidade. Mas pra administrar esses recursos, é necessário sacar um de nossos suprimentos. Matar a fome e a sede, redescobrir o desejo de prosseguir.

Aí nos lembramos de uma canção que gostamos, saímos com amigos e conversamos sobre as desventuras da vida, sobre os tempos bons. Lembramos que passamos por situações à duras penas e saímos vencedores. Olhamos pra nossa torcida ao lado. Um nos encoraja de novo, dizendo que temos potencial. Outro nos alerta que é preciso ter perseverança pra ir até o fim e que temos essa perseverança em algum lugar dentro de nós. Já o terceiro nos anima, dizendo que as lutas vêm, mas que logo vão passar. E a melhor frase de todas: “Isso é fase, vai passar”. Simples, revoltante, mas verdadeira até o final! Tudo passa: as decepções, as mágoas, as dificuldades, as lutas.

É só a gente não se apegar e se esconder atrás delas e correr atrás da felicidade. Deixemos as coisas passarem. Liberemos o perdão retido, as mágoas que um dia nos marcaram, a decepção que nos machucou. As dificuldades, porque passamos por coisas que são muito fáceis e não precisamos complicá-las, e as lutas, porque temos o direito de ter vida boa por um momento que seja. Carregamos esses pesos até aqui porque quisemos. Eles eram pra ser só fases, mas parece que nos acostumamos tanto que queremos carregá-los pelo resto da vida.

Vamos deixar cada coisa no seu devido lugar. Nos levantar dessa prostração, dessa nostalgia, há outras fases, como no Mário Bros. Que tenhamos curiosidade de saber o que há mais adiante. A vida é muito curta para ser pequena. Façamos dela uma história linda, cheia de lágrimas e de erros na busca pelo acerto.

As marcas contam quem nós somos e pelo que já passamos. Que mãos nos desenharam ou nos amassaram como vaso de barro. Que pauladas nos fizeram crescer e que ‘nãos’ nos fizeram amadurecer. Que sorrisos quebraram nosso gelo, e que abraços destruíram as fortalezas que nos isolavam. Que bálsamos nos curaram e que remédios amargos aniquilaram em nós o que fatalmente nos mataria.

13/05/11
Não somos o que somos por causa da partida ou da chegada, mas por causa do meio, que nos produz! Levanta-te, e vem para o meio, descobrir qual é a sua história. É só se levantar e ir lá ver.
 by Inca Nejm

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